quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Mulheres em 2 rodas

Mulheres em 2 rodas

28/02/2010

Quem circula pelo trânsito das grandes cidades percebe facilmente uma nítida mudança de comportamento: a cada ano, há mais mulheres pilotando motos. Elas já representam 40% das carteiras nacionais de habilitação (CNHs) para duas rodas emitidas em Campinas. Apesar de a 7 Circunscrição Regional de Trânsito (Ciretran) não ter um levantamento oficial sobre a retirada de carteiras de habilitação por sexo, a Associação das Autoescolas de Campinas garante que, a cada dez matrículas para CNHs de motocicletas, quatro são para as penélopes charmosas modernas. As concessionárias de motos também confirmam, e comemoram, a maior participação feminina.

Em média, 10 mil novas motocicletas são emplacadas anualmente na cidade e pelo menos 4 mil são compradas por mulheres.

A estudante Mariana Mazotti Figueiredo, de 20 anos, faz parte desse grupo. Optou pela moto por ser econômica e um meio rápido de locomoção. “Além de gostar de motos, a economia que tenho com passagem de ônibus durante o mês é suficiente para pagar a parcela mensal da motocicleta. Outra vantagem é que eu chego mais rápido ao trabalho ou à escola, mesmo dirigindo com cuidado”, disse.

Para a caixa de supermercado Silvana de Oliveira, de 31 anos, a motocicleta garante independência. “Além da maior liberdade para resolver os assuntos particulares, é muito mais fácil e econômico se locomover de casa para o trabalho e vice-versa”, explicou.

Apaixonada pelas motos desde criança, a técnica em enfermagem Michele Hasegava, de 21 anos, retirou a habilitação em dezembro de 2008 para ir de casa ao trabalho. “Liberdade, economia e rapidez são as maiores vantagens. Além disso, os motoristas respeitam mais as mulheres que estão nas motocicletas”, disse.

Oswaldo Redaelli Filho, presidente da Associação das Autoescolas de Campinas, confirmou que o uso de motocicletas é um costume cada vez mais frequente entre o sexo feminino. “As mulheres estão mais independentes e já mostraram que querem utilizar um meio de locomoção mais ágil no trânsito. Além disso, os homens e mulheres mais jovens querem evitar o transporte coletivo urbano”, afirmou.

De acordo com Celso Vilela Filho, proprietário do Grupo Ouro Verde de Autoescolas, as mulheres estão preferindo as motos pela economia, aliada a maior rapidez e à liberdade no trânsito. “A maioria quer a carta de motocicleta para resolver assuntos particulares e se locomover da residência ao trabalho”, afirmou. “Há dois anos, as mulheres começaram a procurar com maior constância as unidades da autoescola para habilitação em motos. A cada ano, cresce pelo menos 20% essa procura”, afirmou Vilela. “Hoje, 40% das carteiras para motos são destinadas às mulheres.”

Nas concessionárias especializadas de Campinas, a procura também é crescente. O gerente de vendas da Honda Winner, Agnaldo Brandini, o “Guina”, contabiliza esse aumento na frequência a partir de 2008. “As mulheres já demonstram o gosto pelas motos e chegam atualmente para comprar a Honda CG 150 Mix, que tem o sistema bicombustível, e a Honda Biz 125, a mais vendida para o público feminino no mercado nacional”, disse. “Aproximadamente 70% das Biz 125 vendidas na concessionária são para mulheres, devido às características próprias do veículo para a vida urbana, à economia de combustível e à qualidade da moto”, afirmou Guina.

EVOLUÇÃO. Os números de Campinas reforçam os dados sobre habilitação apresentados recentemente pelo Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP). A estatísticas revelam um crescimento de 20,4% na participação das mulheres na retirada das carteiras para motocicletas no ano passado. Ao todo, foram 43.852 mulheres habilitadas no Estado de São Paulo apenas nas categorias A (moto) e AB (moto e carro) no ano passado. Em 2008, haviam sido registradas 36.417 habilitações para mulheres nessas categorias. No Brasil, a participação das mulheres é também expressiva no segmento.

Dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas e Similares demonstram que as brasileiras já compram mais de uma motocicleta em cada quatro unidades zero-quilômetro vendidas nas concessionárias de todo o País.

Mudança de hábito pode servir para reduzir os acidentes

O maior número de mulheres na direção de motocicletas demonstra uma mudança de hábito social que poderá contribuir com a redução de acidentes e mortes no trânsito. Baseadas em estatísticas sobre acidentes, as seguradoras garantem que elas são mais cuidadosas no trânsito e até cobram do sexo feminino taxas menores no pagamento do seguro nos casos de colisões. As seguradoras mostram também que os homens são mais afoitos e confiantes na direção e que, por isso, cometem mais erros e provocam mais acidentes e mortes.

Além desse fator favorável às mulheres no trânsito, a maior participação feminina em motocicletas retrata a quebra de um preconceito, existente em algumas cidades como Campinas, onde a maioria que dirige moto é do sexo masculino e sempre deixou as mulheres na garupa.

Maria de Fátima Franco dos Santos, professora de psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), cita uma mudança de comportamento social urbano. “Em alguns locais, principalmente nas cidades praianas e municípios como Pedreira e Indaiatuba, é comum ver mulheres em motocicletas porque elas utilizam também bicicletas há décadas. Houve uma transferência natural da bicicleta para a motocicleta”, afirmou.

Com o uso de motos em cidades como Campinas há uma quebra de preconceito. “As mulheres de Campinas, finalmente, criaram coragem e começaram a derrubar o paradigma de que moto é coisa para homem”, afirmou a psicóloga.

Maria de Fátima atribui essa mudança de comportamento à economia gerada pela moto e também pela facilidade de locomoção. “O trânsito está muito confuso e inviável. A maioria das pessoas, incluindo as mulheres, quer usar um veículo mais ágil para chegar aos locais desejados”, disse a psicóloga.

Um dos pontos positivos dessa evolução na participação das mulheres na modalidade duas rodas é o maior cuidado que elas demonstram nas ruas, o que, segundo as autoridades, poderá resultar em redução futura nos índices de acidentes com motos.

Autor: Gilson Rei
Fonte: Diário do Povo

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