Texto publicado no Jornal "Correio Popular" - Campinas no dia 21/04/2006
Tenho observado já há algum tempo que andarilhos caminham às margens das rodovias paulistas. A maioria deles é de psicóticos, que andam sem rumo definido, sem objetivo claro, enfim, sem razão plausível que justificasse aquele andar solitário. São homens, e principalmente esses, e mulheres que sozinhos ficaram, abandonados por suas famílias, por seus amigos e pelo Estado. Antes de serem sujeitos errantes, eram pacientes internados em hospital psiquiátrico, mas com o movimento de desinternação também conhecido como Luta Antimanicomial, perderam um espaço, que mesmo público porque mantido pelo Estado, era a única referência de vida privada que possuíam. Sei que é difícil acreditar que as instituições totais possam oferecer alguma privacidade a alguém, mas ao menos a cama que o paciente usava, sentia como sendo sua. Talvez realmente esse fosse o seu único “bem” que possuía no hospital, e até mesmo em sua vida. Os problemas que advém das internações, como o hospitalismo, são inúmeros e geralmente degradam o paciente. De fato a internação hospitalar deve ser usada como último recurso para aqueles que estejam colocando em risco a sua integridade física e a dos outros, e não como única moradia dos doentes mentais abandonados ou rejeitados por suas famílias, mesmo que esses não apresentem o risco mencionado. O Estado não pode simplesmente desinternar essas pessoas sem oferecer uma condição de vida digna para elas. Isso que está acontecendo vai contra os Direitos Humanos, pois um deles é exatamente o de viver com as necessidades básicas atendidas. A estrada, por mais liberdade que ela represente, e, portanto, é o oposto do hospital psiquiátrico, não deve ser o único caminho que esses pobres indivíduos encontraram para viver. Eles precisam ser olhados com respeito e a eles devem ser dispensados os cuidados que necessitam por sua condição singular. É aviltante observarmos um Estado que tanto arrecada de impostos, proporcionar uma situação miserável aos seus cidadãos insanos desamparados, rejeitados e incapazes.
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