terça-feira, 28 de agosto de 2012
Caso Yoki – perícia
Caso Yoki – perícia
Psicóloga forense e professora nas faculdades de Psicologia e Direito da PUC-Campinas
2012/08/28 - Coluna semanal publicada no jornal Correio Popular - Campinas
A imprensa divulgou a perícia de reconstituição da morte e esquartejamento de Marcos Matsunaga por sua mulher Elize.
A atuação do perito é questionável. Na maior parte do tempo ele não interroga a assassina e em muitas ocasiões ele induz a resposta desta.
Até mesmo o boneco utilizado na cena é visivelmente incompatível com o tamanho e peso do rapaz morto, visto que é muito mais leve e fácil de ser carregado por ela.
Vejamos alguns pontos que merecem destaque, dentre tantos outros que são insípidos e nada trazem de importante para o esclarecimento do crime.
O perito reiteradamente repete o que ela havia dito anteriormente, ao invés de deixar que ela verbalize novamente – o que poderia mostrar contradições entre os depoimentos prestados antes e o atual. Em certas situações o perito oferece uma resposta e não uma indagação, como deveria ser feito em reconstituições de crimes.
Ao comentar sobre os passos dados por Marcos, responde prontamente e não deixa que ela mostre.
Em certo momento ela responde com a frase “Eu acho que foi aí. Aí eu acertei.” Novamente, o perito não busca a resposta certa, mas se contenta com uma dúvida deixada por ela.
Dúvida esta que, inclusive, poderia ser por não se lembrar exatamente do que havia dito em depoimentos anteriores. Aliás, ao dizer que achava – ao invés de ter certeza – ser naquele local que desferiu o tiro, fica questionável a medida de 1,90 m atribuída pelo perito como a distância entre eles no momento do disparo.
O perito enfatiza se Marcos a olhou “olho no olho”, como se o olhar deste fosse a principal causa de sua morte.
Também, de modo grotesco, o perito começa a enumerar as justificativas do crime ao dizer “Você fez uma coisa que ele tava com raiva aí, começou a te xingar. Aí você pegou a arma. Ele ficou mais bravo ainda de repente, né? Foi isso aí que aconteceu?”.
Se não bastasse, depois de um singelo “Foi” respondido pela homicida, o perito continua com sua inócua indagação: “Então, ele começou a te desafiar. Você não tem coragem. Eu quero ver você fazer isso. Foi isso aí?”.
É possível enumerar dezenas de falhas toscas cometidas por este perito policial, que por fim, emite um laudo concordando com a versão oferecida por Elize.
Ao assistir a matéria, tem-se a impressão de que o perito procura o tempo todo justificar o bárbaro crime cometido contra Marcos, como se apenas ele fosse o responsável por ter sido covarde e brutalmente morto e esquartejado.
Elize não apenas matou, mas ainda dissecou o pai de sua filha. Se Marcos realmente havia dito, conforme relatado pela homicida, que ela não tinha condições de criar a filha, ele estava com toda a razão.
A divulgação do vídeo gravado nesta reconstituição do crime só vem reforçar o quanto a polícia, mesmo na função pericial, não está capacitada para desenvolver um trabalho sério e irrefutável, em um crime tão grave como este.
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