sábado, 21 de janeiro de 2017
Massacres e facção fortalecida
Texto em minha coluna semanal do jornal Correio Popular de Campinas - 20/01/2017
As rebeliões e massacres que ocorreram ultimamente revelam o poder do crime organizado, principalmente, do PCC (Primeiro Comando da Capital). Esta facção originou-se no Estado de São Paulo e se expandiu por outros Estados e internacionalmente.
O surgimento deste grupo criminoso ocorreu para salvaguardar a integridade física e psicológica dos prisioneiros, que eram humilhados e mesmo torturados, por funcionários prisionais, até por motivos banais.
No início da década passada, já organizados e presentes em praticamente todas as unidades penais, mostraram seu poder, não apenas dentro das prisões, mas também fora destas, em muitas cidades do Estado.
O grupo atacou bases policiais, lojas, bancos, ônibus e matou funcionários penitenciários e policiais. O governo de São Paulo ficou acuado, diante da violência destes criminosos. Esse mesmo governo que havia permitido que o PCC se fortalecesse dentro das prisões.
A força desta facção só foi possível através de “acordos” entre governo e estes encarcerados, através da permissividade com a entrada de celulares e acessórios, assim como, de cocaína. Veja-se que a maconha sempre esteve presente nas prisões, afinal, ela é uma droga depressiva, um calmante para quem dela se utiliza.
O que levou à celebração dos “acordos” foi, principalmente, a promessa de os prisioneiros não fazerem rebeliões, para não comprometer a imagem do governo estadual, que sempre almejou a presidência do país.
Outro fator importante e presente neste pacto absurdo é a própria depauperação das unidades penais, visto que o governo não oferece materiais de higiene pessoal e limpeza, agasalhos e nem todos recebem uniformes e colchões. Além, é claro, da má alimentação servida.
Também o número e qualificação dos funcionários foram reduzidos drasticamente. Apesar de a prisão ter como uma de suas funções a reabilitação, os profissionais responsáveis para isto, praticamente não existem mais, como é o caso da psicologia e do serviço social.
Até o final da década de noventa, havia uma equipe composta por psicólogo, assistente social e psiquiatra, para cada cem prisioneiros. Agora, vemos muitas unidades penais com mais de mil presos e sem a presença destes profissionais. Quando presentes, em muitos casos, eles exercem funções de direção, incompatível com a atuação técnica pertinente. Esta aberração, em relação à falta destes profissionais, mostra o descaso do governo quanto à reabilitação do prisioneiro.
Grande parte dos servidores que trabalha no sistema prisional está com a saúde física e mental comprometida, dada a sobrecarga existente, com o desfalque de funcionários e, é claro, não mais poderem colocar regras necessárias à ordem no ambiente carcerário, por sentirem-se acuados pelo PCC.
Enquanto o governo deixa de cumprir suas funções em relação ao prisioneiro, apesar de afirmar que este tem um custo de quase três salários mínimos mensais – a realidade não mostra este gasto – principalmente o PCC, exerce o controle rígido sobre a população carcerária. Esta dinâmica pelo avesso, só é possível com a benevolência do poder público, afinal, de fato, com os presos, pouco o Estado gasta.
Quando faltam políticas públicas, o poder paralelo assume o seu lugar e quem paga o alto preço, é a população em geral. Paga com o dinheiro público, que não parece ter chegado às unidades penais, e com a insegurança pública, afinal, o prisioneiro sairá pior do que entrou e a reincidência criminal é praticamente esperada.
Este modelo de intencional ausência do Estado e com isso se permite o fortalecimento da facção criminosa, é um projeto que parecia ter dado certo, afinal, fugas e rebeliões diminuíram incrivelmente no Estado de São Paulo nas duas últimas décadas.
O governo só foi ingênuo ao imaginar que, ao vender sua alma para o diabo, ele não cobraria. Ele cobrou, ao expandir o poder desta facção paulista para os outros Estados do país e, com a superlotação e precárias condições de subsistência – que revela o descaso com a vida humana – os massacres se fizeram presentes.
As carnificinas que observamos desde o início do ano mostram a ausência do poder público e o domínio do PCC, reforçados com a utilização de celulares e de drogas como a cocaína, que leva à irritabilidade de seu usuário e ainda provoca a sensação de poder. É óbvio que psicopatas com alto grau de frieza afetiva matam cruelmente, quando acreditam que precisam mostrar quem manda!
Pode-se dizer que, ao permitir a comunicação eficaz com o celular e o uso da cocaína, estes governos caíram na própria armadilha que construíram.
http://psiforense-fatima.blogspot.com/
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